Press ESC to close

A indústria em tempos de coronavírus

Há 45 anos a GTEX atua no segmento de limpeza e saneantes para casa e lavanderia no Brasil de maneira bem intensa, com fábricas em Recife (PE), Cuiabá (MT), Guarulhos (SP), Suzano (SP), outra de detergente em pó em Itupeva (SP), além de distribuidoras no Paraná, Rio de Janeiro, Minas Gerais e Ceará. Entre as principais marcas da empresa o destaque fica com: Urca, Soft e UFE.  

De acordo com o diretor comercial do grupo, Homero Moreira Filho, a GTEX tem uma operação nova, aberta nos Estados Unidos há pouco mais de um ano, praticamente uma startup ainda, mas já vendendo o que é vem da matriz brasileira. Segundo o diretor, a empresa também faz uso dessa operação norte-americana como uma fonte de informações sobre o que está acontecendo no segmento de limpeza naquele mercado. 

Com o avanço do Coronavírus no Brasil, Homero faz uma breve análise para a R-Dias sobre o movimento nas vendas e no abastecimento desse segmento nos supermercados. 

A indústria em tempos de coronavírus

R-Dias: Como você está vendo esse momento que o Brasil está vivendo, enquanto fornecedor? 

Homero: Trata-se de uma situação extremamente nova, ou seja, vai todo mundo tentar acertar os caminhos, um pouco na tentativa e erro. Nesse primeiro momento, o mercado está muito tomador, há um pouco de irracionalidade do consumidor querendo fazer estoques e ainda, na minha visão, há o perigo do contágio rondando quem vai às lojas fazer aglomeração, ter contato com um monte de gente para fazer compras. No nosso caso, especificamente de produtos de limpeza, o mercado está mais tomador ainda. Nossos clientes estão comprando bem e estão vendendo muito bem, mas é um cenário que não sabemos se dura 15 ou 30 dias, apenas sabemos que não será o mesmo daqui algum tempo.  

R-Dias: A GTEX está conseguindo atender esse aumento atípico de demanda? 

Homero: Sim, estamos conseguindo atender. É óbvio que eventuais rupturas podem existir porque o volume vem subindo bastante, mas estamos colocando as fábricas para trabalhar para poder atender. A parte corporativa da empresa está em Home Office, mas conectada pela tecnologia, todo dia trabalhando e administrando com as fábricas as maneiras de ganhar produtividade e estender os horários de produção para atender a demanda nesse momento.  

R-Dias: E qual foi o impacto nessas primeiras semanas de vendas? 

Homero: Esse mês nós teríamos mesmo um aumento de vendas, pois tradicionalmente o mercado de limpeza retoma seu caminho logo após as festas e o carnaval. Todo mundo volta para as aulas, para casa e providencia o reabastecimento. Como o carnaval caiu na última semana de fevereiro, esperávamos que março viesse com 10% a 15% de aumento de vendas. Mas estamos achando que vamos chegar à casa dos 30%. 

R-Dias: Como tem sido o trabalho com os supermercados com relação ao abastecimento? Quais dificuldades e os pontos de atenção você destacaria? 

Homero: A partir do momento que a gente tem o produto na quantidade que os supermercados precisam, a dificuldade que vem surgindo é que algumas lojas estão apresentando problemas na recepção da mercadoria, ou seja, não têm estrutura para um volume tão grande ao mesmo tempo. Estamos tendo alguma tensão nesse momento da entrega em algumas unidades. Depois, tem havido uma demanda crescente por merchandising e estamos redobrando os cuidados, com muita orientação e a disponibilidade de equipamentos de higienização para o time. Mas a gente percebe, pelo que tem retornado de campo, que aumentou a guerra no chão de loja porque todos querem abastecer ao mesmo tempo. Resumindo, os desafios são grandes: da parte da indústria conseguir suprir o aumento de demanda, a entrega tem alguma tensão em alguns pontos localizados, e há demanda crescente por merchandising.  

R-Dias: Estão todos engajados nessa nova fase do varejo, para atender o consumidor? 

Homero: De maneira geral, vejo que os supermercadistas estão também engajados em abastecer a população, mantendo os cuidados com o time. Percebemos uma intensificação nesses cuidados, com a entrada de time externo. Tenho ouvido falar em controle de acesso de clientes na loja para ajudar as pessoas a não se aglomerarem do jeito que andam fazendo. Os supermercadistas estão prestando um serviço à população. Ela está atrás de produtos de limpeza, alimentos, água e eles são o canal. E nós estamos tentando abastece-los também para que os produtos cheguem às mãos do consumidor. A logística está funcionando bem, por enquanto, sem nenhum problema. 

R-Dias: Qual é a sua visão para médio prazo? 

Homero: Na minha visão particular, porque ninguém sabe como vão ser os próximos passos nessa história, acredito que a hora em que os lares estiverem mais estocados, o comércio e os restaurantes fechados, muito menos gente se locomovendo, essa situação de abastecimento vai ser regularizada e talvez até venha uma pequena “barrigada” de volume de vendas porque vai ter um estoque um pouco maior. Por outro lado, o consumidor vai ficar mais tempo em casa e talvez consuma mais produtos de limpeza, mais alimentação no lar e isso talvez diminua essa “barrigada” de vendas. Mas na verdade estamos trabalhando com hipóteses de cenários, ainda com muita incerteza.  

R-Dias: Como a empresa está se preparando para esse período? 

Homero: Estamos preparando ações caso aconteça de determinada maneira, um pouco menos ou um pouco mais, em cada um dos cenários que forem se apresentando.  Sempre com um cuidado muito forte com a parte industrial, porque as pessoas tem que ir à indústria para produzir. Por isso redobramos a atenção, afastamos os grupos de risco do trabalho e quem ficou tem supervisão e orientação mais intensa sobre higienização e cuidados, pois não queremos riscos de contaminação das pessoas que precisam estar na produção.  

R-Dias: Como está o comportamento de vendas no Brasil comparado com os demais países que a empresa atende? 

Homero: A gente atende muito pouco os EUA, então não daria para fazer comparação, são operações muito diferentes, lá é uma startup praticamente. Posso dizer que no Brasil inteiro, independente de algumas regiões mais distantes dos grandes centros em que há menos temor e pânico, o consumo já cresceu consideravelmente. Mesmo em regiões mais distantes e menos densas de população, o consumo deu um salto. Serão tempos novos e difíceis porque, além da doença há o inusitado para a gente administrar, mas o caminho é tomar cuidado e ajudar a população a se cuidar para que essa situação do vírus acabe o mais rápido possível.